Análise a “Rings of Power”

★★★ — Um começo lento para algo que trazia expectativas elevadas, mas que promete trazer a epicidade habitual de Tolkien em futuras fases.

Sobre a Série:

Esta é uma série de drama, aventura, fantasia e ação e encontra-se disponível no serviço de streaming da Amazon.

A história contada é passada milhares de anos antes da famosa aventura de Bilbo Baggins e um bando de Anões pelas Misty Mountains, tal como da tão celebrada trilogia que nos deu a conhecer personagens como o Frodo, Sam, Aragorn entre muitos outros na luta contra Sauron.

Para além de diversas personagens novas, esta série traz de volta alguns nomes familiares aos fãs de Tolkien como Galadriel e Elrond, que por serem elfos possuem uma enorme longevidade.

Análise Narrativa:

Esta série vai sem dúvida dividir muitos fãs de Tolkien, uma das principais razões para tal, é o facto da Amazon apenas ter os direitos dos livros do Hobbit e da trilogia do Senhor dos Anéis, e não ter os direitos do livro onde grande parte da ação da série se desenrola, o Silmarilion. Isto faz com que os escritores da série tenham de arranjar maneiras criativas de contar os acontecimentos da Segunda Idade.

Para além desta situação há que ter em conta que muitos dos eventos que esta série pretende contar, atravessa um enorme período temporal no livro, ou seja, mesmo que a vida dos elfos se mantenha inalterada, iria fazer com que personagens relativas às raças como os Homens e Anões tivessem que ser alteradas constantemente por serem mortais, sabendo disto, os produtores decidiram encurtar o período temporal o que irá fazer com que alguns acontecimentos dos livros se pareçam estar amontoados uns atrás dos outros.

Este amontoar de acontecimentos é mais visível no final da temporada, onde nos últimos 3 episódios, todos eles têm sempre algo bastante importante a acontecer, eventos estes que moldam por completo Middle-Earth tanto em termos físicos como nos seus habitantes.

Imagem e Som:

Rings of Power quando foi anunciada gerou expectativas altíssimas, não só pelo facto do enorme impacto que a trilogia do Senhor dos Anéis tem no mundo pop, mas também por se saber que Jeff Bezos, antigo CEO da empresa Amazon, não iria olhar a custos na produção, tendo sido gasto aproximadamente 60 Milhões de dólares por cada episódio (a primeira temporada custou, portanto, 480 Milhões de dólares), de longe a série mais cara a ser produzida até agora. Para se ter a noção, a trilogia realizada por Peter Jackson custou ao todo 281 Milhões de dólares na altura.

Tendo isto em conta, é natural dizer que a cinematografia da série é uma das mais belas algumas vez vistas na televisão. Existem momentos em que se pode dizer “este frame é arte”, tais como a primeira vez que avistamos Numénor ou Valinor.

Em termos sonoros podemos dizer que esta série também conta com uma bela banda sonora composta por Bear McCreary. Agora, se formos comparar com a da trilogia composta por Howard Shore, esta obviamente encontra-se aquém, mas não deixa de ser muito boa.

Personagens (Spoilers):

Galadriel / Elrond:

No que toca à raça élfica existem 2 personagens de grande destaque: Galadriel e Elrond, ambas já conhecidas para os fãs da trilogia.

Galadriel será sem dúvida a personagem que irá mais chocar os fãs de Tolkien, isto porque ela apresenta um papel completamente diferente do que lhe é conhecido do lore da saga. Contrariamente ao que acontece nos livros, na série vemos Galadriel como comandante dos exércitos do Norte, sendo que durante este período, nos livros ela apenas protege Lothlórien.

Já com Elrond o que choca é a nossa percepção que temos dele dos filmes. Isto acontece porque neste período Elrond ainda era visto como meio-elfo e aos olhos do Concelho élfico ele não era puro o suficiente para se encontrar na tomada de decisões. Será engraçado ver nos próximos capítulos, a forma como ele irá chegar ao Elrond que bem conhecemos como peça fundamental na história de Middle-Earth.

Halbrand:

Uma das personagens que nos primeiros episódios dava a crer ter sido inventada apenas para aumentar a narrativa de Galadriel, acaba por ser uma das principais figuras da história de Middle-Earth. Com Halbrand vemos tanto o caminho de arrependimento de Sauron após a derrota de Morgoth, como a emergência do novo senhor das trevas.

Harfoots / Stranger:

Esta narrativa da série é literalmente inventada e não faz parte do lore. Os Harfoots foram criados nesta série somente como forma de ligação entre o Stranger e os espectadores e isso fica claramente visível numa das últimas falas do último episódio. Com esta narrativa, dá-se a entender o porquê de Gandalf ser tão afeiçoado aos Hobbits (descendentes dos Harfoots) na trilogia.

Isildur:

O último Rei de Gondor (antes de Aragorn) também aparece na série, mas aqui vemos como um simples marinheiro de Numénor. Será engraçado de ver como esta personagem cresce ao ponto de derrotar Sauron e acaba corrompido pelo poder do anel, tornando-se assim num dos Nazgul que persegue Frodo nos filmes.

Opinião final:

Esta é uma série que demora a cativar o espectador, mesmo com a sua epicidade quer de qualidade cinematográfica, quer pelo nome do Senhor dos Anéis que traz consigo atrás. Isto porque esta demora a mostrar algo que verdadeiramente cative os espectadores em termos narrativos, fica a sensação que os primeiros episódios são só para dar a conhecer as personagens e onde quase nada acontece, ficando mesmo o sentimento de que se forem vistos apenas os últimos 3–4 episódios, o espectador não teria perdido nada. No entanto, os últimos episódios demonstram que esta série ainda tem muito para oferecer.

É compreensível que os fãs de Tolkien se sintam um pouco enganados pela forma como a história está a ser contada, onde muitos acontecimentos e personagens foram alteradas. Mas, acredito que esta série se for vista sem qualquer conhecimento do lore consegue ser bastante cativante. Não tendo grande conhecimento para além do que acontece nos livros do Hobbit e Senhor dos Anéis, eu vi-me pregado ao ecrã nos últimos episódios achando quão incríveis certos desenrolares da história foram.